2000 Histórias...
Ep1 . Mirandela e os ciganos
Verão de 1999,
Estávamos em Maio de 1999 e nesta altura estava de rastos, tinha saído da minha banda de originais ( Negative ) ... sendo agora o meu unico escape e alento os Sons of a Gun ( Tributo Nirvana ) .
Foi mais ou menos nesta altura que comecei a planear em fazer um novo projeto de originais em Português e em nome próprio.
Este Verão em termos de espetáculos foi muito bom, neste caso com Tributo Nirvana ... fizemos mais de 70 espetáculos, todos eles em grandes palcos.
Antes de chegarmos a Mirandela vamos recuar 1 dia.
Era Sábado de manhã e estávamos na Quarteira ( Algarve ) na ressaca de um grande concerto na mítica discoteca Kadoc, agora o destino era Mirandela com paragem obrigatória em Lisboa ...
Saímos muito cedo do Algarve, parámos em Alcácer do Sal para almoçar ... almoçámos e rapidamente chegámos a Lisboa.
Como o tempo era contado ao segundo alguma coisa tinha de ficar para trás... pois foi, quando chegámos e com a pressa de trocar de carro, material, reparámos que o nosso cachet da noite anterior não estava connosco, fodss..#×%$#$% tinha ficado na mochila nas costas de uma cadeira no restaurante onde tínhamos almoçado em Alcácer do Sal !
Não podia estar a acontecer ... eram 13h e estávamos em Lisboa sabendo que tínhamos 5 horas para chegar a Mirandela.
Rápidamente arranjámos 1 pessoa para ir buscar a mochila a Alcácer ... que felizmente ainda lá estava ... com tudo 😁
Nesta altura já estava em Lisboa com uma carrinha alugada e com o pessoal la dentro, incluíndo a minha mulher grávida de 8 meses e meio ...
Agora o tempo era mesmo a correr ...
Comigo ao volante e o resto da turma a dormir, lá chegámos a Mirandela em cima da hora de fazer o teste de som.
Teste de som feito, jantar e embora fazer a festa.
Mais uma vez o espetáculo foi um sucesso e era hora de dormir, sem direito a festas e coboiadas.
Como fizemos este concerto sem agente, decidimos gastar o menos possível.
Assim foi, chegámos ao hotel e num pestanejar de olhos eram 6h da manhã e já estávamos a sair de Mirandela, uma cidade que nos acolheu muito bem. .
O tempo era curto para podermos entregar a carrinha de aluguer a tempo e horas .
Nem o sol tinha nascido e à saída de Mirandela a carrinha dá sinal que sem combustível não anda.
No dia anterior com as pressas de chegar a horas nem nos lembrámos que a carrinha estava na reserva e que era urgente meter gasóleo. ... pois é, ficamos parados no meio da serra , no escuro ... sem telemóveis, sem nada.
A única solução era procurar... uma bomba de gasolina.
Como condutor e responsável (?) pelo sucedido, la fui eu sozinho pela serra à procura do impossível e o impossível aconteceu mesmo, ao andar 200, 300 metros encontrei uma bomba de combustível ....não era uma miragem, era mesmo verdade.
No meio da serra lá estava uma casita pequena com 1 ou 2 bombas de gasolina/gasóleo, nem sei de que marca era aquilo. Penso que o proprietário da casa era o dono do posto .
Lá bati na porta e o homem gentilmente desceu e perguntou :
- Bom dia , diga
- Olá bom dia, fiquei ali sem gasóleo no meio da estrada e preciso mesmo de meter para poder chegar a Lisboa.
- Ok, vamos lá meter aqui nestas 2 garrafas e depois vem aqui meter o resto
- Ok
Lá fui eu novamente em direção à carrinha onde o resto da macacada dormia descaradamente.
Meti o gasóleo que tinha nas garrafas e para meter a trabalhar, só de empurrão .... o problema é que estávamos numa subida. Felizmente não foi preciso desferrar, destravei, engatei a marcha-atras e lá começou a funcionar , uau feliz da vida ...
Ao chegar ao posto de abastecimento ,
- ok faltam 450km até Lisboa, 5 contos ( 25 euros ) chega ? [ Sim, na altura o gasóleo era 0.80 cêntimos ]
- Claro que chega!
- Ok, meta lá então os 5 contos.
Lá arrancamos felizes, cansados, esgotados mas contentes.
Eram quase 9 horas da manhã e estávamos a passar no centro do Porto, todos a dormir menos eu que lutava friamente comigo aos estalos, cabeça fora da janela para não adormecer. A Lena, coitada, cansada, morta de sono e com Jessi prestes a ver a luz da vida dizia :
- Estás com sono?
- Claro que sim, diz-me coisas, fala comigo ...
- Ok, Continente, 43-67-FT... ( Morta de sono, falava o que via à sua frente, matriculas, publicidade ... )
Foi uma luta constante,
Era meio dia e estávamos a chegar a Alverca, tinhamos 1 hora para entregar a carrinha.
Entrei na CREL e ao percorrer aquela subida infinita, aqueles 5 contos de gasóleo chegaram ao fim . Não podia estar novamente a acontecer ... a carrinha ainda andou uns 400 metros embalada e a beber o que ja nao tinha ... e parou!
Estávamos a 500 metros da Shell, mas esses 500 metros eram a subir ...
- ui, ai, vamos empurrar!
- Lena vais para o volante com essa barriga gigante, nós vamos empurrar e quando dissermos trava, tu travas para a carrinha não andar para trás.
Passado 30 minutos estávamos finalmente na bomba da Shell.
2 contos ( 10 euros ) chegam na boa.
12h50 às voltas ( Empurrão , mais empurrão) na bomba e a carrinha não pegava.
Por sorte essa bomba da Shell tinha uma oficina no qual fomos pedir ajuda .
- Boa tarde amigo, temos aqui uma Renaul Master nova, metemos gasóleo mas ela não quer pegar.
- Traga lá isso e pare aqui ...
- Aqui está
- Abra o capô
- Pois rapazes, isto tem de ser desferrado, mas isto tem um custo
- Ok,ok pode ser já? É que temos 5 minutos para entregar isto no Saldanha ( Lisboa) .. vai ser impossível
- Isto é alugado?
- Sim
- Vamos ligar para eles, eu resolvo o assunto
- Ok, o numero é este
- "Alô, estou a falar da oficina aqui da CREL , estão aqui uns rapazes com uma carrinha vossa e ao que parece a carrinha está com um problema elétrico, tem combustível, está tudo ok e eles estão aflitos .
Depois de uma curta conversa ao telefone o tipo da oficina conseguiu resolver o nosso problema e lucrar com esta situação.
- Rapazes está tudo resolvido, eu desferro já isto, vou aqui soltar 1 cabo eletrico e vocês já não tem de pagar nada, nem a mim nem à rent a car.
- Sério?
- Sim, eu tenho aqui um táxi, você vai à rent buscar uma nova carrinha para depois vir cá buscar o seu pessoal e o material. Esta carrinha segue depois para lá no nosso reboque.
- Epah você é fantastico
Lá fui eu de táxi buscar uma Ford Transit ao Saldanha, sem horários para entregar e sem pagar mais nada.
Cheguei à Shell, carregamos tudo e lá seguimos para casa felizes e contentes.
Já em casa, depois de tudo arrumado faltava ir entregar a carrinha, pois é, o resto do pessoal estava em casa a dormir e mais uma vez tinha de ir sozinho entregar o raio da carrinha ? Então liguei para um amigo e :
- Daniel, estás numa de vir a Lisboa comigo?
- Oi Cassapo, sim na boa
- Nao te importas de levar uma carrinha? Eu levo o meu carro e tu segues-me
- Ok, embora
Lá fomos os 2 descansados pela estrada fora ...mas ao chegar ao Marques de Pombal deixei de ver o Daniel. Na altura ninguem ou quase ninguém tinha telemóvel, era impossível de o contactar, a unica hipotese era esperar ao lado da Rent a car.
Estacionei o meu carro que por um acaso era novinho e la esperei pelo Daniel que não dava sinais de vida.
Alguns minutos depois vejo o Daniel do outro lado da avenida com um passo apressado na direção da Rent a car.
- Daniel... Daniel
- Oi, Cassapo ... bati ...
- O quê?
- Bati....
- Fds não acredito
La fui ter com o Daniel para saber o que se tinha passado
- Então pá, o que aconteceu?
- Epah nem queiras saber, entrei ali pelo hospital da Estefânia para fugir aos sinais e quando estava a sair do portão bati ali num carro.
- Porra Daniel, embora la ver.
Ao chegar ao local lá estava a carrinha com uns riscos e um Datsun de 1970 com o stop partido.
A carrinha como estava em meu nome tive de dizer que o responsável era eu.
Sabia que o arranjo do Datsun não era problema, estava mais preocupado com a Rent a car ... então lá fui eu pela 2a vez dizer que tinha ocorrido outro problema.
O responsável da rent a car era um tipo impecável e disse logo:
- Não ha problema nenhum, vamos lá falar com o proprietário do carro.
Quando voltei novamente à zona do acidente já lá estava o dono, os donos... do carro.
Era um senhor de etnia cigana que estava prestes a ser pai, acompanhado por toda a sua grande família.
O tipo da rent a car quando viu o carro e o dono disse logo:
- Epah resolva lá isso sem envolver aqui a rent a car, se você pagar 10 contos (50 euros) quase que leva o carro.
- Ok, vou lá falar com ele
Lá fui eu ter com o cigano,
- Olá amigo, eu sou o responsável aqui pelo sucedido, quanto é que quer pelo arranjo?
- 50 contos (250 euros)
- 50 contos?
- Sim, tenho de arranjar aqui uma serie de coisas, já viu como está o carro?
O tipo da Rent a car veio ter comigo e disse
- Epah pague lá os 50 contos ao homem e prometo que os 2 próximos alugueres faço grátis.
Assim foi, lá paguei ao cigano os 50 contos ...
Quando cheguei a casa falei com o pessoal da banda, não queriam acreditar no sucedido ... depois de tudo aquilo que passamos nas ultimas 48h.
Episódios destes não dão para esquecer.
Ep2 . 3 noites sem dormir
Julho de 2012
2012 foi um ano de muitos espetáculos!
Estávamos no início de Julho e esperava por nós 3 espetáculos. Sintra, Leiria e Velas nos Açores.
Sintra .
Eram 8h da manhã e já estava de pé.
Na véspera tinha estado a ensaiar com o meu pessoal até às 2h da manhã.
Era um espetáculo muito especial nessa noite, seria a 1ª apresentação ao vivo de temas novos entre os quais "Kota", musica que passava todos os dias na telenovela da Tvi.
Eram 17h e estávamos em cima do palco para fazer o teste de som .... já passava da 18h e estávamos livres para jantar e regressar ao palco às 21h30.
.. como ainda tínhamos mais de 3 horas eu e o David ( Baixista ) tivemos a loucura de ir jogar basquetebol durante 1 hora .
Depois de 1 jogo intenso e de um jantar à pressa, lá estávamos nós em cima do palco para mais uma grande noite de canções.
Era quase 00h e o dever estava cumprido, cansados, suados mas com o coração cheio.
Desmontagem e convívios, cheguei a casa já passava das 4h da manhã ...bem podia ter chegado às 6h ou às 7h porque o efeito seria o mesmo ... noite em branco, não sei se foi a adrenalina, se foi a pressão sabendo que às 8h tinha de estar na Best Rock Fm.
Depois de ter estado à conversa com o Miguel Peixoto estava agora a caminho de Alverca, local de encontro para seguirmos para mais uma noite de Rockalhada!
Leiria, chegamos!
Eram 17h e subimos ao palco para fazer o teste de som. A organização do festival antecipou a nossa atuação para as 22h porque tínhamos de estar no Aeroporto de Lisboa às 5h da manhã.
Depois de 2h30 de distorção, saltos , baladas e aplausos lá estávamos nós de novo na autoestrada a caminho de Lisboa .
5h30 e o visto dos bilhetes estava a dar erro, as portas de embarque fechavam nos próximos 5 minutos .... não estava a acontecer.
A coisa lá deu e a sprint começou no meio dos corredores e lojas do aeroporto ... claro, os últimos a entrar no avião.
Respirei fundo e pensei " é agora que vou descansar "
... 30 minutos depois já todos dormiam ... todos menos eu .
Chegamos a Ponta Delgada eram 7h da manhã e qual o nosso espanto quando nos avisaram que o avião para Velas só partia às 16h!
Não dava para acreditar, 2 noites sem dormir, completamente estafados , parecíamos bonecos de cera.
Tentamos arranjar um hotel, residencial, algum local que desse para descansarmos até às 16h.... mas nada feito ...
Eram agora 8h e o doido do David estava a jogar basquetebol com uns miúdos num campo ali perto da marina de Ponta Delgada.
Eu e o resto do pessoal procurávamos um cantinho onde desse para descansar.
Manhã de Julho nos Açores e o Sol já ardia.
Depois de uma manhã e uma tarde bem sofrida, lá estávamos a caminho da bela terra de Velas.
Chegamos ao palco eram quase 18h. Lembro-me de estar completamente anestesiado, o chão parecia um tapete rolante.
O som estava feito, tínhamos agora 2 horas para descansar.
Lá fomos para o Hotel, partilhei o quarto com o Nuno ( Baterista ) e 10 minutos depois de entrarmos no quarto já o Nuno dormia profundamente ... mais uma vez e porque o meu psicológico não funciona com tempos cronometrados, la estava eu a sofrer e invejar o Nuno e todas aqueles que estavam a dormir.
Fiz de tudo para adormecer mas nada resultou ... nos corredores do hotel ligava para casa num sofrimento gigante " Não consigo dormir ... não vou aguentar"
21h e o boneco de cera que via ao espelho estava quase a derreter,
Jantei, bebi e cantei durante 2h completamente adormecido, lembro-me de estar a cantar e cada vez que pestanejava adormecia por milésimos de segundo.
Mesmo adormecido fizemos uma grande festa em cima do palco.
Acabou e eu pirei-me logo para o quarto.
O resto do pessoal ficou por lá ... mas eu não queria saber .
Cheguei ao quarto e o impossível estava a acontecer novamente ... não estava a dar, ouvia o som dos Djs que tinham subido ao palco e eu estava a ficar louco.
Eram 3h da manhã e silenciosamente entra o Nuno no quarto pensando que eu estava nos belos sonhos.
- " Nuno, epah fds não consigo adormecer "
- " Medita "
- " Já tentei tudo "
... eram 7h da manhã e acordo, não podia acreditar , dormi 2, 3 h ? Fiquei tão feliz ... parecia que tinha dormido 20 horas.
O Nuno também já estava acordado e fomos dar uns mergulhos no Atlântico dos Açores.
Como o nosso voo era às 21h , passamos o dia todo dentro de agua. O David dormiu até às 16h, quem me dera ...
Quando cheguei a casa lá consegui dormir em condições ...
Episódios destes não dão para esquecer